Arte ou fotojornalismo? Eis a questão


Uma foto que simplesmente relata um fato, fotojornalismo puro

Um comentário muito interessante em um outro post aqui do blog me levou a pensar no seguinte dilema: quando devemos fazer uma abordagem documental e quando devemos fazer uma abordagem artística sobre um determinado assunto?

Certamente são duas vertentes distintas: numa você tem o fotojornalismo, que é a simples documentação do momento, sem quase nenhuma criação sua, digo “quase” porque é claro que dentro do contexto, o ângulo e o recorte da imagem por exemplo contam como parte de sua “impressão digital”. Geralmente caracterizadas por ângulos conservadores, com tendências perpendiculares e diafragma fechado para que se tenha uma cena totalmente em foco/confortável de se ver/estudar, afinal você quer documentar o momento inteiro, e não somente parte dele. Funciona melhor em fotos onde momentos devem ser registrados para depois serem reproduzidos com 100% de fidelidade. Como um retrato de família por exemplo, onde na fotografia a pessoa deve ser exatamente igual ao que é (ou ao que foi) na vida real - você olha aquela foto 20 anos depois e sabe exatamente como era a pessoa há 20 anos atrás.

Por outro lado, existe a vertente artística, que na minha opinião é composta pelo seguinte: “faça como você preferir, a arte é sua, registre o momento como quiser, eu quero me recordar de como isso era de acordo com sua visão”: o trabalho final oriundo desse tipo de solicitação geralmente tem tudo a ver com a maneira a qual o fotógrafo se sente mais confortável para fazer seu trabalho. De fato, essa vertente é muito mais difícil de ser avaliada no quesito bom/ruim, pois como cada um possui o seu olhar, e sua visão sobre a arte, não fica objetivamente óbvio o que cada um enxerga ao ver a fotografia. Então acaba acontecendo mais ou menos uma coisa “ame-o ou deixe-o”. Por exemplo: se você tirar um retrato de família de alguma forma que deixe a pessoa bem mais magra (usando seu segredo artístico, sei lá, um ângulo incrível que você descobriu que causa esse fenômeno), essa pessoa vai olhar a foto 20 anos depois e vai se achar mais gorda atualmente, mesmo que efetivamente não tivesse engordado nada - ame o fotógrafo porque registrou você mais bonito(a) do que você é ou deixe-o porque ele não fotografou você como na vida real? O que você queria? Uma foto jornalística ou uma visão sobre você sob o ponto de vista do autor (fotógrafo)?

A arte de Urbano Erbiste, profissão fotojornalista

Quando o fotógrafo recebe uma missão de fotografar um assunto, e a forma de abordagem não for especificada, cabe a ele decidir qual das duas vertentes irá utilizar: a fotojornalística ou sua veia artística, lembrando que ambas são autorais, afinal a escolha de como o produto final (imagem) foi executado, seja ela como for, foi do fotógrafo.

Um ponto muito importante a lembrar-se também, é que não só de reportagem e jornalismo são feitas as fotografias fotojornalísticas; embora o nome nos leve a fazer uma atribuição, eu posso muito bem registrar um momento de descontração de uma maneira fotojornalística, assim como posso registrar um momento sério com uma visão artística.

Você acha que o fotojornalismo não vive sem a arte? Acha que arte é bobeira vista como confusão fotográfica que serve como desculpa para fotógrafos ruins mostrarem seu trabalho? Acha que fotojornalistas que executam com suprema exatidão os momentos são pessoas desalmadas? Queremos saber sua opinião!! Não deixe de colocá-la nos comentários para que possamos gerar uma discussão a respeito do assunto! Eu adoraria ver isso por aqui!

A minha opinião é a seguinte: acho que são coisas independentes entre si, que quando unidas resultam em um trabalho gloriosamente bonito e sensível, porém não é qualquer um que tem domínio entre ambas as vertentes. Aliás o Urbano Erbiste é um deles, o cara consegue fazer arte em cima do fotojornalismo com um talento único. Pra mim é um dos melhores fotojornalistas da atualidade.

Bem vindo ao fantástico mundo da Fotografia!

Fotografar, é colocar na mesma linha de mira o olho, a cabeça e o coração.

Henri Cartier-Bresson (1908-2004)