Inspiração Fotográfica: Urbano Erbiste


Essa semana venho mostrar a vocês o trabalho de um fotojornalista chamado Urbano. Conheci seu trabalho através do Chongas, um blog de humor que de vez enquando tem algumas fotografias interessantes e conteúdo sério publicado pelo autor, por sinal é um blog  muito bacana que vale a pena visitar. Quando vi suas fotos não pensei outra coisa senão convidá-lo para participar do Inspiração Fotográfica aqui no blog. Entrei em contato com ele e imediatamente obtive uma resposta positiva. Então aqui vamos nós!

Aos 30 anos, Urbano Erbiste projetou-se fotografando belas modelos, a partir daí tem traçado seu caminho dentro do fotojornalismo, onde trabalha como Repórter Fotográfico no Jornal do Brasil, com 19 anos iniciou no Jornal Povo, migrou para Publicidade e depois retornou ao jornalismo. A cada “click” tenta trazer a beleza existente dentro do caos e da violência urbana.

São muitas informações, fotografias e curiosidades a respeito desse profissional; para buscar então algumas respostas acerca do fotojornalismo no nosso país, fizemos uma entrevista, onde perguntei sobre questões fotográficas em geral.

Fotografia Cotidiana: Olá Urbano, seja bem vindo ao Inspiração Fotográfica! A primeira pergunta que eu gostaria de fazer, para que o leitor possa saber melhor sobre você é a seguinte: Qual a sua idade, há quanto tempo você descobriu a fotografia, e há quanto tempo trabalha com ela?

Urbano Erbiste: Vamos lá, tenho 30 anos, descobri a fotografia por meio de sobrevivência. Morava em São paulo e nunca havia trabalhado, precisava muito de  grana. Conheci então o assessor do prefeito da cidade de Cotia, local onde morava na época, e uma vez fui perguntado se sabia fotografar, respondi de imediato que sim, então ganhei uma câmera Zenit 12 XP e  busquei alguns fotógrafos locais, contei minha história e me deram as dicas iniciais, trabalhei algum período como fotojornalista, mas fui melhor aproveitado na área de criação e desenvolvimento de layout da campanha. Depois voltei ao Rio de Janeiro, e por conta da minha mãe, era frequentador da Redação do Jornal POVO, pois na época ela era diretora do jornal. Comecei então a trabalhar como motorista, e em semanas já estava na fotografia como estagiário. O editor Eduardo Santoro foi um dos grandes professores que tive, e nessa história encurtada em poucas linhas já se passam 12 anos que fotografo, 9 profissionalmente.

FC: Vi que algumas de suas imagens são feitas em ambientes não muito receptivos, principalmente para fotógrafos que carregam equipamentos pesados e caros, você já teve algum tipo de problema referente à esses assuntos com seu equipamento?

Urbano: O problema mais comum é a quebra do equipamento, em sua maioria acabam caindo ou batendo em deslocamentos rápidos, ou até mesmo em virtude de nossa defesa pessoal, tais como correr, rolar, cair; literalmente se jogar. Coação de roubo eu por sorte nunca tive, mas  inúmeros amigos já tiveram seus equipamentos roubados ou apreendidos por traficantes em determinadas pautas, além de policiais que não gostam de aparecer para sua própria segurança também.

FC: O que mais me impressiona em suas fotos é que dá para perceber que elas querem dizer algo a mais, não só relatar a realidade, mas sim muitas vezes fazer uma critica, passar alguma mensagem implícita. Quando você fotografa em campo, você pensa em fazer essas composições o tempo todo?

Urbano: Quando eu fotografo, tento partir do principio da genialidade em que 1+1=3, onde uma foto e um fato geram uma terceira narrativa; em minhas fotos eu tento colocar uma critica, gerar alguma emoção, minha formação acadêmica é em Publicidade e Propaganda, e por isso não tenho o costume de olhar fotos como referência, então sempre busco referências publicitárias, onde se tem mais tempo de elaborar uma peça com emoção. Quando chego em algum lugar em pauta, observo o máximo de tudo que envolve o local e espero aquela fração da fotografia existir, nem sempre o planejamento da foto em minha cabeça acontece.

FC: Certamente você é bom em qualquer área da fotografia, mas por que a paixão pelo fotojornalismo e não moda, por exemplo?

Urbano: Fotojoranlismo anima, emociona, impulsiona e excita, é um vicio, a ausência de rotina, o contato com “o humano” diário, o não saber nunca de onde você irá parar naquele dia, isso faz do trabalho uma distração, eu gosto muito de moda, e como fonte de renda, faço alguns editorias de lojas aqui no Rio, é um trabalho mais detalhado, mas certamente muito mais lento e glamouroso. Quando posso, fotografo por prazer surf, gosto de retratar uma interação do homem com a natureza, e o surf me remete muito isso, o fato de tentar dominar a onda, ou obter um melhor aproveitamento dela. Sempre brinco dizendo que “o Jornalismo me dá status, a moda dinheiro e o surf prazer!”

FC: Você acompanha policiais como aqueles operadores de câmera de TV que vão atrás deles em programa de repórter policial? Alguma vez já ficou realmente com medo de não voltar pra casa?

Urbano: Não só acompanho, como faço alguns filmes também do meu campo de visão em trabalho,  já passei momentos de risco, mas nunca pensei em morrer ou algo parecido. Já tive que  manter diálogos com bandidos, até como esclarecimento de minha presença em determinadas áreas.

FC: Qual cena marcou mais a sua carreira como fotojornalista?

Urbano: A foto que marcou em mim, foi do menino Erique, de 5 anos na Vila Catiri, com uma fantasia improvisada no meio do lixo, esse bairro é o que tem o menor índice de desenvolvimento Humano da cidade do Rio de Janeiro, e vi ali um sonho quase perdido.

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FC: Em suas fotos, você retrata a realidade, visto que tal realidade no nosso estado como um todo não é tão “bonitinha” quanto a zona Sul do RJ, algumas pessoas, de maneira errada obviamente, podem achar sua fotografia insensível ou bruta. Você já sofreu esse tipo de abordagem?

Urbano: Tenho sorte na maioria das vezes, recebo algumas críticas quanto ao teor das fotografias, mas tenho como defesa que meus olhos me levam onde poucas pessoas podem ir, ou simplesmente em sua pressa capitalista não percebem determinadas coisas, muitos não percebem a primavera, não vêem a flor, não vêem nada, quando deparam com uma foto comum, com teor mais violento acabam tendo algum tipo de reflexão.

FC: Como alguns moradores de comunidades vêem você com uma credencial de imprensa? Voce acha que eles se sentem invadidos no quesito privacidade, ou acha que eles nem ligam pra isso e querem mais é aparecer no jornal?

Urbano: Invadidos sempre, observo nesses 10 anos à frente de editorias de cidade nos jornais que trabalhei, que a presença da imprensa em uma comunidade é um ser estranho, a falta de cultura e informação sempre geram piadinhas, após a morte de Tim Lopes, a imprensa passou a ser mais hostilizada nas comunidades. Infelizmente somos um dos poucos tentáculos sociais que entram em uma comunidade carente. Além disso, sempre estamos acompanhados de força policial, o que pra eles não é bem vinda. E moradores dessas comunidades não se importam em aparecer ou não.

FC: O que você mais gosta de fotografar quando não está a trabalho?

Urbano: Não costumo fotografar quando não estou em trabalho… já fotografo tanto diariamente… fico responsável pela ronda do jornal, que consiste  em rodar pela cidade e fazer fotos que gerem pautas, tenho sempre comigo uma câmera, às vezes indo a um jantar, na volta pra casa em um dia de folga, lá estou eu fazendo uma foto pro Jornal.

Eu chorei vendo essa foto.

Incrível né? É muito gratificante termos um fotojornalista desse nível trabalhando para um jornal de veiculação nacional! Parabéns Urbano, e um forte abraço!!

Urbano possui um blog onde coloca suas fotografias, caso queira acessá-lo clique aqui.