Irmãos recém nascidos


Hoje de manhã saí pra fotografar no Parque da Ruínas, um dos N lugarezinhos históricos de Santa Tereza (RJ). Chegamos lá e como de praxe, tinham muitos turistas de outros estados, fazendo suas presepadas tirando retratos com a cidade em segundo plano usando flash, fazendo barulho e jogando lixo no chão -lamentável.

Quem conhece o Parque das Ruínas, sabe que é uma espécie de casa aberta que tem uns 3 ou 4 andares, onde no penúltimo deles tem uma daquelas escadas que giram, que dá acesso a uma pequena cobertura - onde por sinal tem-se uma vista privilegiada dos cantos do RJ.

A caminho da cobertura, nesse penúltimo andar, um barulhinho me chamou atenção. Parecia som de um pássaro, não, não; no plural!! Um fino grito que aparecia e sumia, repetidas vezes… Fiquei ali por um tempo e identifiquei que só sumia quando alguém subia ou descia pela escada. Fiquei quieto, prestando atenção de onde tal barulho vinha, e não demorou muito até conseguir identificar: um ninho de passarinho escondidinho no último andar da escada, bem num cantinho, onde por perto, os pés dos turistas desesperados passavam pra fazer suas preseparadas e ver a vista do topo, ignorando tal momento único.

Logo percebi que a mãe estava no pedaço. Havia um pássaro indo pra lá e pra cá voando ao redor e por dentro da ruína, era uma rolinha bem gordinha e aparentemente saudável, de cor meio cinza e meio marrom.

Na hora peguei a 100mm macro, subi o ISO pra 1600, me estiquei e fiquei numa posição desconfortável por cerca de 5 minutos esperando o momento certo, e…

Por isso vale o lembrete: quando for sair pra fotografar, nunca se esqueça de usar todos os seus sentidos; dentre eles, a audição certamente lhe ajuda a guiar para os momentos únicos: onde os que só dão atenção ao aparato visual, nunca conseguirão chegar. Mas também não se esqueça dos outros: fique ligado no vento, nos aromas, no tato (pra imaginar as texturas), simplesmente em tudo, e esta regra não vale somente para fotos de natureza: claro que num museu o tato não te serve pra nada, mas creio que consegui me fazer entender.

2 observações que valem a título de nota:

  1. Precisei chegar razoavelmente perto dos bebês, por isso coloquei a câmera em modo de live view, pois o barulho do espelho batendo podia assustá-los;

  2. Nem preciso comentar que a foto foi feita SEM flash. Imagino que seria uma crueldade com eles jogar um flash na cara logo depois de terem nascido. Não só fiz a foto sem flash, como fiquei de sentinela por um tempo depois pronto pra dar esporro em algum turista que fosse fazer tal maldade, pois certamente me viram fazendo a foto e por acaso poderiam esperar eu sair pra ir lá e fazer cagada.

Li uma vez em um guia da National Geographic que a regra #1 para ter sucesso em qualquer foto de natureza, é respeitá-la acima de tudo.